quarta-feira, abril 09, 2008

Quadrilha

Eu estava preparada para fazer um tratado do amor não correspondido (em homenagem aquele poema do José, que amava Teresa, que amava...), mas limitar-me-ei a descrever a cena.

6a feira, choppinho, quatro amigos num bar. Um único menino.
O menino está cercado por 3 meninas absolutamente diferentes: menina A, menina B e menina C.
Menina A acha tudo que ele faz perfeito, é superprotetora e por isso mesmo meio desligada.
Menina B não reparou que ele é apaixonado por ela, ou melhor, reparou mas prefere não acreditar pelo risco de perder o amigo.
Menina C não o acha perfeito, mas o acha surpreendentemente igual a ela, motivo pelo qual ela sabe que ele está apaixonado e sabe que ele não vai falar nada.

Menina B conversa muito com menina C, e menina C conversa muito com menina A.

Em um desses papos, menina C comenta a noite do choppinho e diz que menino não sabe disfarçar. Menina A não entende e menina C explica; menina A não acredita e promete confirmar com menino. Menina B finge que não entende mas, depois de alguns minutos, resigna-se.

Menina C, então, percebe que menino não vai falar nada. E que dois amigos do menino (que ela viu uma única vez) percebem tão bem quanto ela. Menina C pensa "Caramba... de que adianta anos de convivência se eu, que conheci o menino ontem, sei o que ele quer só de olhar pra ele?".

O pior de tudo pra menina C é saber e não poder falar nada, por absoluta falta de evidências. Ainda que o olhar de felicidade seja o suficiente para comprovar. E menina C fica triste pelo menino, porque o poema se encaixa como uma luva:


Quadrilha (Carlos Drummond de Andrade)

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

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A filha de João ia casar com Antônio, mas acabou fugindo com Pedro.
Antônio amava a menina que amava Pedro.
Quadrilha.

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Amizade é uma m*. Traz intimidade, e a intimidade traz a liberdade pra dizer tudo que se pensa. Até magoar fica mais fácil.
E nem por isso menos dolorido.

O bom em ter amigos é não ter que pedir desculpas toda hora. O pedido de desculpas fica subentendido no "tá desculpado" que serve pra substituir o "foi mal", e mesmo na pressa em explicar tudo pra não parecer que foi de propósito.

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Thiago, meu caro, lembre o mantra. Um dia você perde o medo. =)

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