quinta-feira, abril 17, 2008

Inspira, expira, inspira, expira...

Inspira, expira, inspira, expira, inspira, expira...
E que o coração não esqueça de bater.

Vai passar rápido, este é um local seguro, um ambiente controlado, uma instituição séria.
Peraí, tem certeza que eu não tenho mesmo nada de metal? E minhas obturações? Caramba, agora que eu lembrei que uma das brocas quebrou dentro do dente! Eu tenho metal!

Barulho ensurdecedor.

Será que é por causa do metal?

Inspira, expira, inspira, expira...
Conta. Ele disse 20 minutos. Essa é a segunda vez que tem barulhos ensurdecedores ininterruptos, então se eu contar, posso calcular quanto tempo falta.
1001, 1002, 1003...

6 minutos e o barulho pára.
Toda vez que ele pára o coração pára junto.
E eu respiro fundo.

Não desmaia, Sarita, se desmaiar você vai se mexer, ele disse que não pode mexer, não pode nem coçar o pé.

Inspira, expira, inspira, expira...
O barulho volta, e depois de mais 6min pára. Silêncio. Silêncio. A máquina continua fazendo um barulhinho persistente, só pra não dizer que o silêncio é absoluto.

Naquele espaço mínimo, claro, com vento no rosto e metal por todos os lados, eu penso em inundações, assassinatos, invasões, falta de energia, todo tipo de catástrofe que irá acontecer a qualquer segundo, enquanto eu estou ali, imóvel, batimentos cardíacos contados, consciência mantida a muito custo e nível de desespero controlado a base de muitos pensamentos positivos. Até a voz dizer "Tudo bem, Sarita?"

Não, não está tudo bem!!! Se você perguntar isso seriamente eu vou começar a socar essa máquina e vou me libertar na marra!!!
"Tudo, mas vai demorar muito?"

"Já acabou, já vamos tirar você daí."

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A sensação é de ser enterrada viva, sem que ninguém tenha te explicado que você morreu - porque se tivessem explicado você poderia relaxar e se asfixiar em paz, claro.

Depois de 20min fazendo ressonância magnética eu descubro que não tenho claustrofobia, mas que em sã consciência eu nunca mais vou saltitante e curiosa fazer um exame que te deixa trancafiado num cubículo barulhento por 30min.

E não, não dá pra pensar. Seus pensamentos não cabem ali dentro com você.
Mas sempre resta como opção cantar (eu escolhi "Hero", da Mariah Carey, e "Mr Jones", do Counting Crows - sim, eu estava desesperada).
No final, eu entoava o mantra das Bene Gesserit: I must not fear. Fear is the mind-killer. Fear is the little death that brings total obliteration...

Nunca pensei que ler ficção científica fosse efetivamente me ajudar...

3 comentários:

Anônimo disse...

=D

Anônimo disse...

Por que vc não pensou em dormir? Quando entrei naquele cubículo, foi tiro e queda: tiveram que me acordar no fim da sessão... Tem dias que eu só penso em fazer aquele exame novamente.

Anônimo disse...

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