terça-feira, setembro 04, 2007

Só dói quando eu Rio

Então, reunião cancelada, retorno eu para a frente do Edise, onde pegaria o 261 em direção ao Méier (isso sem muita certeza de ser o ônibus certo, fato que eu só descobri depois que o João, com a cara mais ingênua do mundo, perguntou onde nós desceríamos - já em São Cristóvão - quando na verdade ele tinha sido a pessoa a afirmar categoricamente "podemos pegar o 261").

Problemas resolvidos no Edita, problemas herdados, problemas ressucitados, tic-tac devidamente confiscado, livro emprestado (imaginem um épico japonês... pois é, minha atual leitura, depois de ler O livro negro de André Dahmer), e uma caminhada breve...

Quase chegando à Senador Dantas, ouço um barulho. Pá!
Cara de ponto de interrogação, prossigo em minha caminhada, e 15 segundos depois o mesmo barulho. Pá!
Pessoas à minha frente olham para o outro lado da Almirante Barroso, sobressaltadas; mulheres entram em um salão de beleza; carros param.
É uma boa idéia parar também, né, Sarita, pra ver o que está havendo... penso eu. E João deve ter pensado o mesmo, porque também parou.
Olho calmamente para trás.
Um homem. Mulato, camisa preta, calça jeans, tênis, bem apessoado, corre pela Almirante Barroso, vindo da Rio Branco.
Um outro homem. Mulato, farda da PM, fuzil para o alto, corre pela Almirante Barroso, vindo da Rio Branco, fazendo o mesmo caminho que o primeiro homem.
O primeiro homem coloca a mão na cintura.
Pronto. F***. penso eu. João deve ter pensado o mesmo, porque começou a me empurrar para dentro do salão de beleza. Eu parada. Peraí, eu quero ver, João...
Sirene vindo pela Almirante Barroso, no sentido da Rio Branco. Carro para, salta um homem, mulato, farda da PM, pistola na mão. Rende o primeiro homem.
O segundo homem, vendo que o terceiro dominou o primeiro, pendura o fuzil de novo e continua correndo. Algema o primeiro homem (com a mesma rapidez que vemos nos filmes) e o faz ajoelhar-se no chão.

Subitamente, me senti segura.

Continuo andando em direção ao ponto de ônibus, mais por insistência do João do que por vontade própria. Eu queria ficar pra ver...
Do ponto de ônibus, vemos a viatura passar, sirene ligada, não mais na contramão. O primeiro homem no banco de trás.
Nova sirene, indo pro mesmo lugar. Um quarto homem, branco, no banco de trás.
Deve ser o cúmplice. João não pensou o mesmo. Segundo ele, devia ser a vítima. Era o único branco...

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Eu não sei o que foi mais insólito: os tiros às 17h30 na Almirante Barroso, o comentário do João ou ver o menino que trabalha aqui no Edise andar na rua tranquilamente, de fone de ouvido, ingorando as pessoas ansiosas e as sirenes.
Morando no Rio, isso já virou algo normal...

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E nem lembrei de tirar foto...

Um comentário:

Cristiano disse...

Éeeee... Não seria tão má idéia se esse boato de votar pra uma centralização fora do Rio passasse...