segunda-feira, novembro 20, 2006

Crash

Não concordo com o subtítulo escolhido para a versão em português do filme.
Morar em uma cidade grande é motivo para todos estarmos no limite. Mas eu não vi nenhum "breaking point" importantíssimo em nenhum personagem que justificasse o subtítulo.

Vejamos. Policias, pessoas do judiciário, latinos, negros, chineses, persas, imigrantes de todo tipo. Uma cidade violenta, várias faces para vários crimes. Nada é o que parece. Você olha o policial, acredita que ele vai matar todo mundo, ele salva alguém. Você olha pro menino, acredita que ele tem futuro, ele é morto por um policial que você acreditava só iria salvar pessoas. O filme é um jogo. Você perseguindo cada personagem tentando saber o que ele pensa, e ele te surpreendendo. Como as pessoas.

Ninguém está no limite. Todos já ultrapassaram o limite e estão naquele ponto onde se tornam imprevisíveis e absolutamente compreensíveis exatamente por serem incoerentes o tempo todo. Explica-se: culpa da cidade, culpa do crime, procuremos respostas na sociologia. O homem é um animal cultural. E não há limites a serem respeitados. Não mais. Na cidade grande, é salve-se quem puder, como puder, quando puder. E geralmente ninguém se salva sem perder algo. O amor, a honra, as certezas, a dignidade, a esperança. Escolha algo. Você vai perder.

Que façamos bom proveito do que temos até agora.
Segundo Leiloca, a astróloga-atriz-cantora, em 2011 nós sentiremos saudades de 2006. Não vejo como. E subitamente me pego lamentando a extrema longevidade humana atual.

Nenhum comentário: